terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Em segredo de justiça



Charge de Gerson Kauer

Data: 22.02.11


O distinto operador do Direito tinha uma esposa que era uma santa. De profissão “lides domésticas”, ela praticava o combate de Eros como uma percanta do tipo fixo eventual.

Como a atividade do marido permitia que ele não ficasse a tarde toda no gabinete de trabalho, o douto seguidamente usava o horário vespertino para praticar o nobre esporte dos leitos. Era – como diziam seus colegas – “um homem solteiro, à tarde, mas rigorosamente casado à noite”...

Certa tarde hibernal, ele pegou a namorada e foi a um dos recém inaugurados motéis do bairro Cavalhada. Quando ia estacionar, levou um choque: no box ao lado, fechado por uma provisória (e semi-arriada) cortina de plástico, ele percebeu a traseira de um Vectra.

Abaixou-se, espiou, e – zás...que decepção!... – era o automóvel da sua digníssima consorte. Placa, cor, tudo conferia.

O operador do Direito explicou o impacto – causador da perda de libido - à namorada e partiu levando-a de volta à cidade de 30 mil habitantes na região metropolitana.

Retornado à capital cerca de 40 minutos depois, estacionou à beira do rio e ficou matutando: “mato ela, mato os dois, me suicido?...” - aqueles dilemas clássicos que afligem o homem enganado.

Tomou, então, uma decisão. Voltou ao local de trabalho, esperou anoitecer e foi para casa.

A mulher estava sentada na frente da tevê, assistindo o Datena e – sem ficar vermelha ou sem graça - recebeu o marido com um comentário sobre os dramas retratados no programa de tevê...

- Como tem gente infeliz por este mundo afora!...

O operador do Direito questionou com autoridade típica:

- Onde é que foste hoje de tarde?

A santa nem mesmo levantou a cabeça e manteve o olhar fixo no televisor.

- Fiquei em casa. Fazendo tricô, comendo pipoca para enfrentar o frio, vendo televisão...

- É? E teu carro, por acaso também ficou na garagem, trocando óleo, coisa assim?

Então, ela pegou o controle remoto, mudou de canal, e com a mesma cara de inocência, respondeu:

- Não fica brabo, meu bem. É que tua mãe me pediu o Vectra emprestado, ela precisava dar umas voltas...

Poucas semanas depois ingressou no foro a separação judicial do casal. Consensual, mas em segredo de justiça.

Espaço Vital: http://www.espacovital.com.br/noticia_ler.php?id=22382

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